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Os dois pontos de vista da Psicologia sobre a Ufologia

A psicologia dos “contatos imediatos” – entre o individual e o coletivo



Os estudos em psicologia envolvendo o tema alienígenas e óvnis são numerosos, e trabalham com diferentes abordagens. Só para citar alguns, existem avaliações sobre se há pessoas com propensão especial para atrair ou relatar estas aparições, para fantasiar; se elas estão dissociando, se isso tem a ver com distorção de memória e criação de falsas memórias ou se há ocorrência de algum distúrbio mental. Outras pesquisas já tocam no funcionamento cerebral de abduzidos, enquanto um terceiro grupo de trabalhos aborda as experiências religiosas relacionadas, os diferentes sentidos que os protagonistas dão para suas experiências e a formação de seitas e grupos.

Para Leonardo Martins, pesquisador do Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais (Inter Psi) do Instituto de Psicologia (IP) da USP, o resultado deste panorama é que os achados são controversos. “Alguns vão achar que existe relação com dissociação, por exemplo, outros não, outros apenas em parte; e assim por diante”, diz.

Ele acredita que ainda existe pouca reflexão sobre os processos psicossociais. “A maioria dos trabalhos parece focar em um sujeito isolado, como se o psiquismo dele funcionasse à parte do contexto, e sabemos que a mente funciona dentro de uma realidade socialmente construída”, analisa. Além disso, existe a predominância do modelo explicativo, que é herdado das ciências médicas.

Na avaliação do pesquisador, óvnis e ETs são uma grande oportunidade para a psicologia e áreas afins estudarem o imaginário contemporâneo. “Na verdade, são ‘a oportunidade’, porque são ícones culturais enormes. E o estudo científico nesta área ainda está em seus estágios iniciais”, afirma.

No Brasil
Atualmente doutorando do IP, o psicólogo aponta também a necessidade de se replicar os estudos em outros contextos, já que a maioria deles foi desenvolvida nos Estados Unidos. Foi isso que ele procurou fazer já em sua pesquisa de mestrado, defendida em 2011 no IP. “Contatos imediatos”: investigando personalidade, transtornos mentais e atribuição de causalidade em experiências subjetivas com óvnis e alienígenas.

Como não havia quase nenhum trabalho em psicologia no Brasil sobre o assunto, a ideia era começar pelo básico. “É lugar comum falar que estas pessoas são malucas, que têm tendência a fantasiar, não sabem lidar com a realidade e precisam fugir. Então eu quis investigar se isso se dava – e como se dava – em território brasileiro”, conta.

O resultado é que as hipóteses do senso comum foram refutadas. Ou seja, pelo menos nas amostras estudadas as pessoas não apresentavam transtornos mentais numa proporção superior ao restante da população.

Ainda assim, relata o pesquisador, apareceram alguns traços de personalidade em comum. O grupo que relatou experiências mais simples, de ver uma pequena luz passando no céu, por exemplo, demonstrou ter uma visão de mundo mais aberta e positiva do que o grupo controle. “São aquelas pessoas que de cara percebemos serem animadas, extrovertidas. Elas também têm uma sensibilidade maior para o apelo estético das coisas, ou seja, para se emocionar com uma música ou um filme; têm rotinas mais variadas e são mais contestadoras socialmente”, detalha.

Ao mesmo tempo, elas pontuaram menos do que o grupo controle no quesito esforço para realizações. “Elas correm menos atrás de certas coisas que são valores socialmente difundidos, como carreira e dinheiro, e tendem a ponderar menos antes de tomar decisões”. O grupo de abduzidos e contatados também pontuou bem mais do que o grupo controle em relação a ter a mente aberta, rotina movimentada, sensibildade estética e assertividade. Eles demonstraram valorizar os sentimentos e serem contestadores, tanto dos valores sociais quanto das ideias. “São pessoas mais críticas”, resume Leonardo.

Explicações
Segundo o estudioso, o resultado pode ser analisado de várias formas. “Podemos pensar que, por terem a mente mais aberta, estas pessoas estão mais dispostas a aceitar certos tipos de explicações do que outras. Ou questionar se o fato da literatura mostrar estes acontecimentos como tendo transformado positivamente a vida das pessoas tem a ver com elas serem mais alegres e bem dispostas.”

Outro ponto que surgiu especificamente entre os abduzidos e contatados é que, ao menos naquele grupo experimental, eles apresentaram mais indicadores pré-mórbidos na infância: características que alertam que a pessoa pode desenvolver um transtorno mental mais para frente. “A questão é que essas pessoas chegaram a um desenvolvimento posterior tipicamente saudável. Será que isso tem a ver com a gênese das experiências, ou pelo contrário: tais pessoas poderiam até ter esta tendência, mas aí as experiências possibilitaram que suas vidas ganhassem novos sentidos, mais positivos, tomando uma direção saudável? Não entendemos uma série de processos psicológicos humanos ainda”, comenta.

Pela teoria psicológica de atribuição de causalidade, o ser humano recorre a diferentes referenciais e explicações para o que vivencia. “Quem vê uma luzinha, mas nunca ouviu falar em óvni, pode simplesmente achar que é algo que não conhece, não sabe o que é. E mesmo que nós tentemos instigá-la a falar, esta pessoa não vai dar esse rótulo ao que viu”, explica Leonardo. Então, quando alguém rotula de nave espacial uma luz avistada, “está bebendo de uma série de referenciais, como ciência, religião, esoterismo”. A pesquisa mostrou que só quando estas pessoas fizeram uma combinação engenhosa de todos estes referenciais conseguiram dar às suas experiências subjetivas o sentido que é popularmente difundido, isto é, óvnis como sinônimo de naves espaciais e alegadas entidades estranhas como seres extraterrestres.

Hora certa, local exato
Em sua pesquisa de doutorado, que tem uma abordagem etnográfica, Leonardo estuda locais onde as pessoas têm relatado experiências atualmente e em grande intensidade. No trabalho, provisoriamente intitulado Alienígenas, óvnis e o fim do mundo: Dinâmicas psicossociais contemporâneas entre o sobrenatural e o tecnológico, um dos objetivos é estar nestes lugares antes dos relatos, entendendo um pouco sobre como funciona a cultura local; bem como na hora em que as experiências acontecem; e também depois das mesmas, verificando os rumos que tomam as histórias. “A ideia não é que eu dê o ‘voto de minerva’ e diga o que aconteceu ou não. Sou só mais uma subjetividade que está lá. O que quero estudar é o que acontece em termos de psicologia social”, explica.

O pesquisador enumera alguns achados iniciais. “O primeiro é que a minha presença parece ocasionar episódios. Nos dias anteriores e posteriores à minha chegada os relatos são mais numerosos”, conta.

Leonardo também aponta para uma certa “generalização de confiabilidade” uma naturalização, quer dizer, uma única experiência parece servir para legitimar todas. É como se os protagonistas pensassem: se eu vejo algo estranho, qualquer coisa que eu vir depois será a mesma coisa. Ao menos nestes contextos, quando aparece, por exemplo, um borrão em uma fotografia, as pessoas já têm uma grande propensão a atribuir isso a uma explicação ufológica. Esta lhe parece mais simples e óbvia, enquanto que outras soam forçadas.”

Além disso, o psicólogo afirma que episódios rurais tendem a ganhar uma conotação negativa e assustadora, enquanto que os episódios urbanos têm apresentado uma interpretação mais positiva, por exemplo, de que os ETs seriam seres evoluídos espiritual e tecnologicamente e que viriam para nos ajudar. “Quero discutir o que embasa essa diferença em termos culturais e sociais”, diz. As entrevistas de campo têm sugerido que, nos locais rurais, o mistério está ligado ao medo: é algo que deve ser respeitado. Já no meio urbano, a relação muda; o mistério é algo que deve ser buscado, e não evitado.

Perfil
Leonardo destaca que o perfil daqueles que relatam experiências têm quebrado alguns preconceitos. “A maioria das pessoas que encontrei até o momento na pesquisa, em contextos urbanos, têm alto grau de escolaridade. A ideia de que óvni é coisa de pessoas ignorantes é um reducionismo imenso. O que não quer dizer que eu esteja assinando embaixo dos relatos, mas sim que este é um fenômeno – tanto na esfera individual quanto coletiva – bem mais complexo do que se sugere”, defende.

Por último, ele aponta o que chama de ‘poder comprobatório intrínseco da experiência’. “Quando alguém passa por uma experiência ufológica, o ‘eu estava lá e vi’ é a pedra angular. ‘Eu vi. Podem falar o que quiser, usar teorias, mas eu estava lá e sei o que vi’.” É como se este fosse um ponto cristalizado na mente da pessoa, que alimenta uma espécie de alteridade e dificulta o diálogo. “ ‘Se você é cético, não importa o quanto tente me convencer, eu estava lá e vi’, dirão. E quem não estava lá muitas vezes diz: ‘não importa o quanto você argumente; eu não estava lá e não vi, então você pode ter se enganado’.”

Discos voadores: imprensa e debate público no Brasil dos anos 1940-50

Não faz tanto tempo que os discos voadores estão por aí. Para sermos exatos, eles “chegaram” em 1947. Foi neste ano que o piloto norte-americano Kenneth Arnold relatou relatou ter visto algo que não pôde compreender. Ele teria observado aeronaves semelhantes a “um prato de torta cortado no meio com um tipo de triângulo convexo na traseira”. Tais objetos “voavam de maneira ondulante, como um disco se você o joga sobre a água”.

Embora Arnold não tenha utilizado o termo disco para falar da forma dos objetos, sua descrição foi levemente modificada pela imprensa e, dessa confusão, surgiu a expressão “disco voador”. O termo pegou e passou a ser usado desde então para designar os objetos e fenômenos aéreos que não são imediatamente reconhecidos pelas pessoas.

Curiosamente, depois desse episódio, várias pessoas disseram ter tido visões parecidas nos Estados Unidos e, após a chegada da notícia ao Brasil, 28 casos foram informados também no país, em apenas dois meses. Se a hipótese de vida alienígena já era um prato cheio para a literatura e para o cinema, os tais discos voadores que surgiram em 1947 acabaram se tornando uma verdadeira febre na imprensa – séria ou sensacionalista – ao longo da década de 1950

Esta é uma história muito bem contada no trabalho de mestrado defendido pelo historiador Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp: A invenção dos discos voadores: Guerra Fria, imprensa e ciência no Brasil (1947-1958).

Em palestra no Instituto de Psicologia (IP) da USP, o professor do Centro Universitário Araraquara (Uniara) falou um pouco sobre a pesquisa onde investigou, em particular, as percepções da população sobre o tema e a influência da imprensa, da ciência e da Guerra Fria em tais concepções.

Naquela época, diz Rodolpho, as ideias a respeito de discos voadores ainda “eram capazes de provocar pânico, choro, risos e grandes discussões que consumiram muito papel”. Mais do que isso, “simbolizavam anseios e preocupações de toda uma geração”, descreve.

As fontes escolhidas para estudo foram, principalmente, as da imprensa. A escolha, de acordo com o pesquisador, foi baseada no fato de a mídia escrita ter sido uma grande arena de debate público a respeito. “Através desse material, examinamos o comportamento da própria imprensa, da comunidade científica nacional e, quando possível, de outros atores da sociedade brasileira”, explica, acrescentando que assim foi possível reconstituir parcialmente as lutas e tensões entre os diferentes grupos sociais neste processo histórico.

O debate
A própria imprensa organizou a discussão, estruturada a partir de uma pergunta principal: os discos voadores existem de fato? De acordo com o historiador, dois grupos se destacaram: quem acreditava que os casos eram “fruto de algum fenômeno psicológico individual ou coletivo” ou mero “resultado de confusões com objetos e fenômenos conhecidos”; e aqueles que defendiam que os discos voadores eram aeronaves reais, mas provavelmente armas secretas secretas soviéticas ou norte-americanas. Embora o mundo vivesse o início da Guerra Fria, “a maioria dos cientistas consultados pelas agências de notícias internacionais defendeu a primeira hipótese”, relata Rodolpho. Inicialmente, a possibilidade de seres extraterrestres quase não era cogitada.

Ao longo da década, continuaram ocorrendo ondas de relatos de discos voadores no Brasil e em outros países. Aos poucos, começaram a aparecer também os defensores de que os discos não seriam armas das superpotências, mas visitantes extraterrestres. O desenvolvimento tecnológico das décadas anteriores já permitia aos humanos sonhar com viagens espaciais num futuro próximo. Isso atiçava a imaginação das pessoas, e foi muito bem aproveitado nos inúmeros produtos da indústria cultural.

No Brasil, o jornal O Globo assumiu a posição de associar os discos voadores à tendência humana de acreditar em mistérios e superstições: “os homens são inclinados a crer nas coisas vagas, misteriosas e imprecisas (…) Os homens sempre viveram à custa desses pequenos romances. Mais um, menos um, não alteram os ritmos da vida”, afirmou o editorial de 11 de julho 1947.

Mas o tema continuou ganhando destaque na pauta popular, e chegou ao auge a partir o caso da Barra da Tijuca, em 1952. Jornalistas da revista O Cruzeiro deram testemunho de que viram discos voadores, ilustrando o depoimento com fotos. Somente vários anos depois, análises mostrariam que as imagens eram uma fraude. Na década de 1950, a mesma revista divulgou 58 matérias sobre o tema, contribuindo para suscitar discussões em todo o país.

Em território nacional, os cientistas tiveram tímida participação nos debates da imprensa. “Poucos membros da comunidade científica brasileira expressaram sua opinião. Os que falaram, em sua maioria, não permitiram que sua identidade fosse revelada”, detalha Rodolpho. O físico César Lattes, por exemplo, depois de muita insistência, declarou a um repórter da Folha da Manhã em 1952: “nada tenho a dizer. Nada poderia dizer, mesmo que quisesse. Os cientistas somente acreditam naquilo que vêem”.

Ainda assim, pelo menos nesta época, a hipótese extraterrestre sai vencedora da disputa, gozando de credibilidade no imaginário popular brasileiro e internacional. Segundo o pesquisador, em termos gerais, isso pode ser explicado pelo interesse econômico da indústria cultural em um assunto que mobilizava públicos; pelo baixo nível de conhecimento científico da população; pelo apelo daquilo que não podia ser explicado pela ciência; e pelo forte interesse que a ideia de visitantes alienígenas causava.

Para o estudioso, o progresso tecnológico pós Segunda Revolução Industrial abriu um precedente em termos de imaginário. “Afinal, se os humanos podiam agora sonhar com as viagens espaciais, não era difícil pensar que seres de outros planetas já possuíam tal tecnologia. Nenhum outro período histórico esteve tão ligado culturalmente ao que existe além da Terra quanto o século XX”, conclui.

FONTE: A psicologia dos “contatos imediatos” – entre o individual e o coletivo
Editoria: Especiais | Autor: Luiza Caires | Data: 30 de junho de 2013
http://www5.usp.br/


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FONTE: PROGRAMA FENÔMENO UFO/TV MUNDO MAIOR

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